sábado, 28 de fevereiro de 2009

© Théophile-Alexandre Steilen (1905)

Acendi a lamparina da máquina de café…
E recebemos (eu e o meu gato) as lembranças com que ela nos presenteou. Para o Querido Gato uma bonita embalagem de biscoitos com um opulento laço azul e, para mim, a ópera Gianni Schicchi.
Não resisti em levantar-me, contornar a mesa, e encostar os meus lábios aos dela.
A água do café, já a ferver, subia para o balão de vidro...
— Vamos ao cafézinho — foram as suas primeiras palavras depois do silêncio que emoldurou uma ternura mútua.
Ambos sabíamos que se nos revelavam apaixonados sentimentos.
lp

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Greg Pike é famoso em Santa Fé (EUA) pelo seu trio "Rato, Gato, Cão". Ele e os seus animais são vistos nas ruas de Santa Fé recolhendo as doações dos turistas que param boquiabertos pela incomum amizade entre o seu rato, o seu gato, e seu cão. O rato deixa o gato lambê-lo e esconde-se debaixo do gato quando os turistas se aproximam. O cão... dorme quase sempre!

Foto de Christopher Crawford
Que bem me sinto a escrever a recordação daquele jantar de sábado passado. Agora quase que me humedecem os olhos ao ter visto em Simone a minha mulher, a minha amante, a amiga e irmã, a Santa dum altar, a deusa de Olimpo a quem dedicaria as minhas memórias do passado, a ternura do presente, e as angústias do futuro.
— Senhores, que maravilha de assado — disse a certa altura a minha querida visita.
Olhei-a procurando-a por entre os cravos. E foi ela exactamente que afastou a jarra um pouco mais para o lado para que nada nos separasse; e, assim, na cálida claridade da vela que se reflectia no espelho claro e belo dos seus olhos, balbuciei palavras sem nexo e peguei no copo para outro brinde, este só para ela; eu nada mais queria depois daquele momento tão mágico. Julgo ouvi-la dizer:
— Desculpe lp! À saúde e felicidade de ambos.
— Aceito o brinde Simone, se me olhar de novo assim, como o fez agora.
O Querido Gato, enroscado na sua almofadinha de cerimónia, espreitava de soslaio.
lp

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Indiquei-lhe a sala. Ela entrou para a maior divisão desta casa. Tem uma varanda e duas janelas para a rua. Entrou e disse:
— Acolhedora, lp. Bem bonita. Falta-lhe apenas um toque feminino! Arranje-me uma jarra para os cravos.
Aquele à-vontade, como visita de casa sem cerimónia, deixou-me embevecido. Era exactamente assim que eu sonhava como se pode e deve construir uma harmonia.
— A senhora manda — e desandei pelo corredor.
Naquele momento entrou na sala o Querido Gato, vaidoso pela beleza que ostentava depois do SPA da tarde.
— Cá está ele! — disse Simone.
E desde logo se baixou para uma festa. Ele que não amuasse, hem!; também lhe tinha trazido um presentinho.
Tapava a mesa de jantar uma toalha dum tecido de chiffon vermelho transparente sobre sombra branca, dando-lhe assim um tom rosa; pratos da série "cavalinhos" da antiga Fábrica de Sacavém. Copos vermelhos. Talheres. Guardanapos brancos. Um candelabro de casquinha com a velha vela vermelha ainda apagada.
lp

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Gato e... cão!

Cats - Jake´s Mousers
© João Azevedo
Portefólio aqui
E com ela entrou aquele jovem sorriso, aquela flor dum jardim primaveril, aquela face que se me estendeu para um beijo; um ramo de cravos vermelhos, uma garrafa de vinho tinto e desculpas pelo atraso.
— É capaz de me explicar como se entra nesta casa? — foram as suas primeiras palavras.
Simone bem tinha batido com a mãozinha de ferro, batente enferrujado que este prédio ainda conserva na porta da rua. Expliquei-lhe: uma repenicada chama a atenção da vizinha de baixo; uma batidela para o meu andar, uma batidela/repenicada para o lado direito, duas batidelas para o 2º esquerdo e, por fim, duas batidelas/repenicada para o 2º direito.
— Mas o que posso entender por "repenicada"?…
— Lembre-se das pancadas de Molière. É semelhante. Trata-se duma convenção em prédios antigos — expliquei — Quem lhe abriu a porta, Simone?
— Uma senhora com um garoto que se lhe agarrava às saias. O miúdo quis saber quem eu procurava…
Nélinho, deduzi de imediato. Estafermo do puto. Está sempre de olho alerta.
lp

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

França (2009)

© Debby Faulkner-Stevens * Tilley

Os artistas que vieram a ser conhecidos como "impressionistas" interrogavam-se: "Que cor é esta?" Pergunto-me eu muitas vezes porque sei, como eles sabiam, que a cor muda de segundo a segundo. Mas a cor, neste quadro que componho, em nada tem a ver com uma paleta, pincéis, tela e cavalete. Tem a ver com a fraca gama policroma da minha vida.
Com a ineficácia dum artista principiante na criação de arte, concluí, desde o "sim" de Simone, que a cor preta também tem luz; vejo-a e sinto-a quando olho para a negrura do pelo do meu gato.
Passavam 10 minutos das 20 horas quando Ela me bateu à porta.
lp

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Polar Bear

O gato de Cleveland Amory
(Foto de Deborah Feingold)

Pantufa Negra

Uma tira da autoria de Luís Faustino para ver diariamente no Expresso online, aqui.
© Édouard Manet
Gato sob a Cadeira, c.1869
(Gravura a água-forte)
Paris, Bibliothèque National
Depois do rol feito e revisto, mãos à obra.
Com a casa não me tinha que preocupar; a mulher-a-dias vem por aqui todas as sextas-feiras e dá uma volta com o ruidoso aspirador, limpa o pó e ainda lava os vidros quando lhe sobra tempo.
As minhas principais tarefas estavam planeadas; tratar do Querido Gato (corte de unhas, higiene dentária, lavagem, secagem, penteadela), retirar de imediato do congelador um lombinho de porco (uma especialidade que me sai sempre muito bem), compor a mesa com a velha vela encarnada ainda por estrear, e aguardar pelas oito da noite.
Na singeleza que norteia o meu comportamento, não deveria haver lugar para o imprevisto. Mas o imprevisto acontece-me sempre, porque sempre por ele espero. Questão de hábito.
lp

domingo, 22 de fevereiro de 2009

© Tall Spotted Cat - Carole Fleischman

© paulMish - Cloud 9 (2006)

Esta imagem funciona como wallpaper para computador.
Caricatura da escritora americana Patricia Highsmith
da autoria de
John Minnion

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Por fim Simone disse:
— O seu Querido Gato não está doente, pois não?
Deixou-me entre a espada e a parede. Era uma pergunta subtil que necessitava duma resposta semelhante. Avancei.
— Não a convido como enfermeira. Convido-a como amiga.
Mais um silêncio que me pareceu uma eternidade.
— Às 8?
— Sim, 8! Se quiser vir mais cedo, venha. É consigo, Simone.
— Até logo, então — e desligou.
Uma enorme felicidade rodeou-me. Agarrei no gato, abracei-o como quem abraça um amigo de longa data, dei-lhe biscoitos. Foi ele, aquele jovem animal perdido ou achado no bairro, que me abriu as portas a outra forma de vida; abandonar esta de estar só e ouvir um outro coração, uma voz de mulher bonita, inteligente, morena, de cabelo negro, penteado revolto, atraente, tantos entes que não tenho espaço para os encaixar aqui.
Calma lp. São 3 da tarde.
Vamos planear o encontro.
lp

Tertúlia poética “Quartas Mal Ditas” no Clube Literário do Porto

Vai ter lugar no próximo dia 25 de Fevereiro (quarta-feira) no Piano-bar do Clube Literário do Porto, pelas 22h00, a já habitual sessão das Quartas Mal Ditas.
A sessão contará com a participação de António Pinheiro, Diana Devezas, Isabel Marcolino, Joana Padrão, Luís Carvalho, Mário Vale Lima, Marta Tormenta e Rafael Tormenta
O tema desta tertúlia será: "Gatos, Gatos, Gatos"
Coordenação de Anthero Monteiro.
Convidada: Rosa Brandão.
Mesmo à saída esbarrei com um terrível "dragão", e um "Homem-Aranha".
O meu gato eriçou o pelo e os miúdos gargalharam.
Subi a calçada e entrei em casa não sem antes ter ouvido a costumada sequência; fim-de-semana, Nélinho na avó, maroteiras, sopapos, choros.
Bem sei que estamos no Carnaval mas o puto já tinha idade para ter juízo.
Voltando à imagem na toalha de papel: gostava de aprofundar porque me lembrei de Simone uma vez que a tal Samotrácia não tem cabeça e a minha amiga não tem asas.
Quero fazer-lhe uma proposta para jantar, mas aqui, onde moro. Depois do esplendor no Conventual, posso dar-lhe a conhecer a intimidade desta casa que em nada me envergonha.
Liguei-lhe:
— O que se passa lp?
— Tenho um convite extensivo a duas pessoas. Espero-a às 8 da noite para jantar, aqui em casa.
— E a outra pessoa, quem é? — perguntou.
— Eu!
Fez-se um eterno silêncio entre os dois.
Olhei para a perfeitíssima perspectiva do Aqueduto das Águas Livres…
lp

Cupcake

O gato de Ludwig Lewisohn (foto de 1952)
© Daniela Pereira
Portefólio aqui

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

No momento em que saboreava a "Baba de Camelo" a clientela levantou-se como se tivesse sentido um impulso vertical de baixo para cima e gritou em uníssono: Gooooloooo!
Viam uma partida de hóquei no plasma do Braz.
Mas o meu Querido Gato, não esperando tal impulso, apanhou um susto tremendo e deu um pulo como se quisesse ir ao encontro dum asteróide. A trela, presa à cadeira, suspendeu a sua entrada em órbita, e o bicho acabou por cair desamparado mesmo aos pés do novo empregado (semana sim, semana não, o Braz renova o pessoal) no momento em que me servia a bica. 
Claro está que o café se entornou mas, olhando para a toalha, foi-me dado observar que a cor azul escura do carrascão e o castanho negro do café, desenhavam no papel branco um bonito corpo de mulher com azas, qual Vitória de Samotrácia e, nesse instante mágico, lembrei-me de Simone.
Agarrei no Querido Gato e saí.
lp

O gato que joga xadrez



Chama-se iCat e nasceu no Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Investigação e Desenvolvimento do IST de Lisboa. Criado com a ajuda de parceiros da Alemanha, Polónia, Reino Unido e Hungria, este robô felino é perito em xadrez.

De cor amarela e com expressões faciais, o gato electrónico consegue adaptar-se a diferentes níveis de competição do adversário e antecipar as próximas jogadas. Como se não bastasse, o iCat sorri quando o jogo lhe é favorável, mudando de emoção conforme a situação da partida.

Mas os investigadores ainda não estão totalmente satisfeitos e pretendem desenvolver a memória do bichano robótico, de modo a que seja capaz de recordar as pessoas com quem jogou e adaptar essas memórias ao nível do adversário.

Nos próximos três anos e meio (tempo que falta para o desenvolvimento do projecto) os cientistas planeiam levar o iCat até aos computadores portáteis. A chegada ao mercado deste companheiro de xadrez não tem ainda uma data marcada.

Exposição no Clube Literário do Porto

No dia 21 de Fevereiro, sábado, inaugura, pelas 17h30, no Clube Literário do Porto uma exposição de aguarelas "As meninas" da autoria de Antónia Gomes.

O trabalhos de Antónia Gomes distinguem-se por um imaginário em que o social aparece como uma forma oculta de realidades que tem muito a ver com as problemáticas humanas do nosso tempo, justificando-se uma maior difusão da sua obra, pois cultiva valores de modernidade que não passam despercebidos ao observador mais atento. As suas aguarelas, além de denunciadoras, reflectem uma linguagem solta e um sentido de libertação que singulariza a obra da artista no seu tempo. Trata-se, no conjunto, de personagens humanas envolvidas de mistério e de sofrimento, mas ao mesmo tempo ansiosas de uma intensa liberdade que afaste para sempre os mais ocultos constrangimentos.
Surge, assim, na sua obra uma fuga para a frente, em que a artista e revela desejosa de atravessar o portal da esperança. Antónia Gomes, tem uma maneira muito peremptória de trabalhar a sua aguarela em que resultam planos e segmentos, reforçados de gestualismos espontâneos e certeiros, que conferem uma expressão pictórica livre e uma solidez quase abstracta as suas personagens.

A exposição de pintura de Antónia Gomes poderá ser visitada na Galeria do CLP até ao final do mês de Fevereiro.

O Clube Literário do Porto fica na Rua Nova da Alfândega, n.º 22, no Porto

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Pela primeira vez levei o Querido Gato ao Braz.
Entrei no restaurante como se nada fosse, ocupei a minha mesa e pedi uma toalha de papel para sentar o gato na cadeira vaga. A clientela do costume não deixou de me cumprimentar e sorrir, pois não é chique levar-se um gato de trela a um restaurante popular de Campolide, como refinado cão de fila, sentá-lo à mesa, pedir um prato, abrir a latinha Gourmet Gold de "Frango do Campo" e servir o bicho. Mas todas as gracinhas que ouvi tinham uma chancela de carinho e admiração.
O "arroz de pato" estava como sempre; muito tostado por cima e quase cru por baixo. Depois da experiência no Conventual fiquei um cliente exigente; fui peremptório com o Braz; eu tinha o direito de exigir uma toalha de papel limpa e não a que o comensal anterior tinha deixado com brutas nódoas de vinho tinto. Além disso o arroz não tinha pato…
lp
A partir de hoje publicaremos aqui com regularidade as Crónicas do senhor lp, dando continuidade ao que já tem sido editado nas caixas de comentários pelo seu autor.
Será assim possível a todos acompanhar os episódios do Querido Gato e do seu dono.

Pippo

O gato de Wanda Wulz
(foto de Marion Wulz - 1950)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Biscoitos Katzenzungen da Imperial Court Bakers Demel
(Áustria 1900)

O Gato Preto


O Gato Preto
Brasil, 2008
(07' 53'')

Adaptação do conto de Edgar Alan Poe, O Gato Preto, numa animação realizada por uma turma da Escola Animada de Contagem de Minas Gerais.
O projecto foi realizado com técnica de animação de recorte e o conceito remete aos filmes mudos do início do século XX (sobretudo os filmes expressionistas alemães), com um trilha áudio base e quadros com texto.
Contou com a participação de Léa Cardenas, Rodrigo Liberato, Janine Brioude e Felipe Augusto.
Apoio e edição de áudio de Leonardo Arantes.
Direcção e edição de Cristiane Fariah.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

(França)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

(1988)

Chaznel

O gato de Alfonso Ribeiro

(foto de 1992)

Pantufa Negra

Uma tira da autoria de Luís Faustino para ver diariamente no Expresso, online, aqui.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Gatos na Banda Desenhada portuguesa (III)


Autores: Hugo Teixeira (desenho), Vidazinha (argumento)




O Gato, banda desenhada a cores, da autoria de Hugo Teixeira (desenho) e Vidazinha (argumento), publicada no fanzine Tertúlia BDzine em Junho 2008
Este pequeno episódio (três pranchas) apresenta-se com um fundo dramático invulgar, graças à capacidade ficcional da argumentista, talvez influenciada pela especialidade em que exerce actividade profissional, a medicina veterinária. Quanto ao desenhador, Hugo Teixeira, é já bem conhecido na área estilística da mangá, e também enquanto autor completo (argumento e desenho) no que se refere a ficções futuristas.

Artigo da autoria de Geraldes Lino, especialista em Banda Desenhada, autor dos blogues "Divulgando Banda Desenhada" e "Fanzines de Banda Desenhada" e Fundador e organizador da Tertúlia de Banda Desenhada de Lisboa.

Mittens


Bolt é o herói canino de serviço na mais recente animação vinda da Disney/Pixar. Mas que seria de um cão sem a indispensável companhia felina? Desta vez, a difícil tarefa cabe a Mittens, uma gata vadia de Nova Iorque que se vê obrigada a seguir o protagonista na sua aventura por toda a América.


Impertinente e sensata, mas com muito sarcasmo e sentido de humor, Mittens é também pessimista, o que acaba sempre por chocar com a maneira de ser carinhosa de Bolt. Como se não bastasse, esta vilã astuta e solitária descrê na amizade e não confia nem sequer em si própria. Mas claro que a convivência com o herói vai fazê-la passar a ver as coisas de uma forma mais risonha.



sábado, 14 de fevereiro de 2009