terça-feira, 31 de março de 2009

Ali-Kahn

O gato de Elizabeth Taylor e Eddie Fisher (1961)

segunda-feira, 30 de março de 2009

Moody & Magnificent
The Harry Robinson String Sound

Catford Cat

Catford é um bairro londrino e a sua imagem mais conhecida é o Catford Cat, uma gigantesca escultura de fibra de vidro de um gato preto por cima da entrada do Centro Comercial Catford.

Pantufa Negra

Uma tira da autoria de Luís Faustino para ver diariamente no Expresso online, aqui.

domingo, 29 de março de 2009

Catnip Love
© Nicole Wong
pen&ink, watercolor
Que sera l'épilogue?
Déluge ou fol embrasement?

Timides jouets de l'alternative
devant ce nuage
qu'écartèlent les quatre vents
nous gardons nostalgie
de la nuit animale
d'étoiles crépitant
sur son pelage noir

& nous caressons le désastre
qui ronronne sur nos genoux

Raymond Farina

Big William Baxter

sábado, 28 de março de 2009


"Lazy Afternoon" © Sérgio Redondo
Portefólio, aqui.
Juke Box Hits!
Ariola Records

sexta-feira, 27 de março de 2009



Azulejos do século XVII
Palácio Fronteira
Foto de David de Abreu

© Dragonfly
Portefólio, aqui.

A sensação de conforto foi miraculosa. Aconteceu-nos aquele momento que ainda não tinha sido descoberto, tão lânguido, tão dado, tão recebido; tanta ternura numa posse plena de alegria, plena de juventude; os corações de ambos rejuvenesceram, rejubilaram, saltaram para fora dos peitos para se unirem ainda mais e, nessa posse eterna, quando a água já arrefecia, descobrimos que o amor é a mais bela criação na Natureza.
— Nunca amei assim, lp
— Nunca amei assim, Simone.
E selámos estas palavras com um beijo nos lábios febris.
Depois, minha mulher, ainda naquela preguiça desfalecida que vale oiro para um homem, disse-me:
— Tens que ensinar o teu gato a ser mais discreto.
Olhei para o lado. E ele lá estava, o Querido Gato, iluminado pelas velas, sentado no banco, lambendo a boca como que a saborear o nosso doce beijo.
E agora, amigos, chegou a altura de pôr ponto final a estas crónicas. A intimidade de um lar é para se viver de portas adentro.
lp

FIM

quinta-feira, 26 de março de 2009

A tartaruga apareceu numa velha caixa de cartão que se destinava ao lixo.
E foi o Querido Gato, com a sua patinha direita, que destapou a caixa, eriçando o pelo negro ao ver que dentro dela reluziam uns olhinhos pequenos, num pescoço alongado que saía duma carapaça rija como pedra.
Simone ficou radiante e agradeceu-lhe.
— Sabes — disse-lhe — os dinossauros desapareceram. As tartarugas ainda existem.
Está a casa pronta. Arrumada. Bonita. Predominam os tons castanhos, amarelos e brancos. Sobretudo, brancos. O Branco é o conjunto de todas as cores. De todas as cores do nosso enlevo e, também, a cor dos lençóis de linho da nossa cama de casal.
— lp
— Diz querida mulherzinha.
— Sou feliz!
Então, enchemos a banheira de água quentinha que criou uma espuma branca como a neve. Acendemos muitas velas, não sei quantas, juro-vos, e apagámos a luz eléctrica.
lp
Irish Drinking Songs: The Cat Lover's Companion
Grafismo de Molly C. Loar para capa de CD de Marc Gunn

quarta-feira, 25 de março de 2009

Gato e... hamster!

Já se passou um mês meus leitores, desde a última crónica.
Recebemos antes de ontem, na nossa nova habitação, a vinda dos haveres que ambos tínhamos nas nossas casas. Foi um mês profícuo; já não nos conhecemos de cor.
E, para lá de tudo, temos uma certeza, se na vida pode haver certezas; Amamo-nos.
Gosto do André — é uma criança bonita e educada. E, sabem, estou a aprender a ser pai.
Tenho, como já vos disse, 48 anos… mas nunca é tarde para se ser pai.
Simone está cansada pelas tarefas de "dona de casa"; pediu ao médico veterinário (que, enfim, já se assume como homossexual) uma semana de férias antecipadas para arrumar, embalar e desembalar, dividir, ajuizar, prendar, desfazer-se de coisas velhas, e cruzar os braços ao fim do dia, numa apreciação geral ao seu trabalho.
O Querido Gato não pôs entraves ao local que lhe foi destinado para as suas coisas.
O que preocupa minha mulher, entristece-a até, é não ter encontrado a tartaruga.
— É estranho, sabes! Já era tempo de deixar a hibernação — disse-me ao fim do dia.
lp

terça-feira, 24 de março de 2009

© Sadanobu Hasenawa 1970
Estava de acordo com Simone; aliás tenho que me habituar a estar de acordo com minha mulher; Campolide não servia para nós dois; bairro velho, prédio velho, vizinhos velhos, enfim!
E agora, com uma imagem desvirtuada, como me livraria eu do falatório? — "Lá vem ele, o lp, o do gato preto que comeu a gata branca da bruxa".
Também a casa de Simone à Rua do Capelão era pequena para um casal com um filho e um gato.
Então, numa destas tardes de Verão antecipado, pensámos procurar um T3, num bairro sem reboliço; ela alugaria a estrangeiros o seu andar à Rua do Capelão (com o atractivo anúncio "A Rua de Severa") ou então punha-o mesmo à venda. Eu deixaria Campolide da maneira que mais me conviesse.
Fizémos contas; somámos várias vezes as parcelas do deve e do haver.
A Clínica não pagava mal. Eu, trabalhando para mais uma editora (muito possível dado o número cada vez maior de títulos que todos os meses aparecem nos escaparates), podia arrecadar mais alguns euros e, tudo junto, enfim, sobrava dinheiro para férias em Porto Covo.
lp

segunda-feira, 23 de março de 2009

Pantufa Negra


Uma tira da autoria de Luís Faustino para ver diariamente no Expresso online, aqui.
© Tsunoda Kunisada (1786-1864)
Não esperou muito. Com velocidade felina em plena selva, sem saber porque artes mágicas se lhe oferecia um manjar inusitado àquela hora da noite, o meu jovem gato saltou para cima da velha gata e mordeu-a valentemente no pescoço.
Foi o que conseguiu ver. Nada mais.
— Depois voltei para baixo, Sr. lp, com o gatinho ao colo. Fechei a sua porta com duas voltas, como pede a minha avó...
— Fala mais baixo, olha a vizinhança — pedi-lhe — e não quero ouvir mais nada.
De facto, os vizinhos em redor, alertados pela alteração monótona da Calçada que de Mestres sempre fora, riam-se da cena que vos conto.
— Bom! Desanda — ordenei ao puto.
Tomei a decisão que se impunha para evitar males maiores; reentrei e dirigi-me à matrona.
— Pois que seja assim. O que está feito, feito está! Mas que provas tem a senhora de ter sido o meu gato a fazer o favorzinho?
— Tenho todas as provas, seu canalha. As cartas não mentem e, na vigilante serpente do candeeiro, há pelos de gato preto...
— Olhe, acabou-se! Compro-lhe a ninhada inteira! — e despedi-me.
A bruxa ficou com os olhos a brilhar.
lp
EUA (1988)

domingo, 22 de março de 2009


Bien Être Total (1955)
Quando, então, a avó lhe pediu para ir ao 1º andar ver do meu gato (ela e a matrona estavam presas a uma fase empolgante da novela que seguiam, choravam e riam), naquela noite em que eu e Simone jantávamos no Conventual, naquela noite em que choveu picaretas, fiquei sem chapéu de chuva e rompi a gabardina na porta dum táxi, ele, Nélinho, tinha tomado a chave de casa da cartomante (que, por hábito, a deixava na mesinha da entrada, logo ali à mão de semear) para saber como se comportava o meu "gatinho" em frente da pachorrenta gata da bruxa.
Entrou em minha casa, pegou no Querido Gato e, rápido, subiu ao segundo andar.
Quase esbarrava com uma serpente de ferro forjado que se enrolava num candeeiro de pé alto que a vizinha tinha logo à entrada como símbolo do pecado original.
Na cozinha a gata dormitava, mas logo acordou com o ruído.
Pôs o Querido Gato no chão ao lado da bichana, e sentou-se num banco, esperando.
lp
Photon

sábado, 21 de março de 2009

Cela commencerait
par la fatigue d'un voyage
un nom que ne cesserait pas
de ne pas effacer ce brin
d'herbe tremblant sur la dalle
le ciel minéral le chat
là-bas
devant un jeudi de neige
(quelqu'un scrutant ses questions)

Le chat laissé dans sa sagesse
casanière
indifférent devant ce lent
naufrage d'arbres dans le blanc
l'erewhon lointain des nuages
de quelle éternité
détaché

Cela commencerait ainsi
sans raison sans soleil
par quelques mots blessés à vif
& soignés avec d'autres mots
deux dates que ne cesserait
de ne pas effacer ce bruit
d'herbes frôlant la dalle
deux enfants comptant les années
pour commenter l'âge des morts
à quelques pas de là

Ce serait à Prague ou ailleurs
une ville réelle
rentrant dans sa musique
& dans cet hiver dans l'hiver
il y aurait partout des gisants
le ciel ouvert leurs yeux perdus
sous le granit de leurs paupières
leurs tempes battant encore
d'acacias ivres d'abeilles

Raymond Farina
— Posso falar com o seu neto, a sós, na rua? — perguntei à vizinha do R/C.
— Com certeza Sr. lp (e em voz alta) Nélinho! vem cá...
E o miúdo apareceu não sem antes ouvir outra chamada.
Simone, entrementes, tinha-me dito:
— Vou andando lp. Vou pela ama a buscar o meu filho — deu-me um beijo e arrancou.
Na rua, na rua onde nasci, onde vi crescer num terreno bravio as "casas económicas" do Estado Novo, onde me vejo ainda de calção encostado ao Aqueduto, onde ainda me lembro de ouvir o apito do comboio vindo do túnel, nessa rua morna com uma carvoaria taberna, digo ao puto com ar severo:
— Vais contar a verdade, ouviste bem? Se o não fizeres queixo-me de ti a teu pai e falo com o director da escola; andas um mês inteiro com orelhas de burro.
— Eu nunca tinha visto Sr. lp… nunca tinha visto — disse o Nélinho a fingir que chorava.
— Conta-me o que fizeste naquela noite. Eu já sei tudo, mas exijo que te confesses.
E o puto confessou.
lp
© Daniela Pereira
Portefólio aqui

sexta-feira, 20 de março de 2009

Malta (2004)

E, de facto, por algumas janelas, os vizinhos em redor tentavam perscrutar.
— E tu queres que eu viva contigo num prédio com uma bruxa histérica? — disse Simone.
— Aqui há tramóia — interrompi — A matrona está fora do juízo. Como pode ter sido o meu Querido Gato? Há tramóia. Cheira-me a tramóia.
Ouvimos mais um grito da avó para o neto "Então, a água e o pano, Nélinho?!".
— E não só a bruxa — continuou Simone — Ainda temos que aturar o miúdo.
OH! SIMONE! que inspiradora palavra acabaste de pronunciar (disse eu para os meus botões).
Abri a porta da rua e entrei; a cartomante bebia, enfim, o seu copo de água e D. Leopoldina passava-lhe pelo pescoço um pano húmido.
O puto, quando me topou, escapuliu para dentro de casa.
lp

quinta-feira, 19 de março de 2009

Ces dernières lignes
pour le chat
si réel & si fascinant
dans son losange de soleil
sa minuscule Egypte immense
au moins deux fois
de tout le silence du monde

Raymond Farina
D. Leopoldina pediu ao neto (que estranhamente estava em casa da avó a uma quinta- feira).
— Vai buscar água Nélinho. E traz também um pano molhado.
A língua viperina da matrona voltou emanada de grande força.
— Minha querida gatinha! Oito anos, oito anos sem saber o que era um gato. E agora? O que faço com a ninhada? Eu mato o gato, ai! mato, mato! Eu mato o gato! Malandro. Estafermo. Aperto-lhe as goelas…a Senhora ao Pé da Cruz me perdoe...
— Deixe D. Leonilde, não se preocupe — disse D. Leopoldina querendo deitar água na fervura.
— Eu chamo a polícia! vou chamar, vou chamar a polícia! — dizia a matrona aos soluços — já me falta o ar. Ai! de mim, ai! da minha virgem gatinha…
D. Leopoldina para o puto, em forte grito: — Então Nélinho, essa água?
Voltei a olhar para Simone. Estava branca pelo dramalhão.
Dei-lhe um beijo na face pálida e viemos para a rua.
Os gritos da matrona tinham acordado a Calçada dos Mestres.
lp

quarta-feira, 18 de março de 2009

Jeepers e Crapers

Os gatos de Elizabeth Taylor (9-10 anos) e do seu irmão, Howard (1930-1940)
"… o desgraçado, o maltrapilho, não tem onde cair morto este gajo. Bem me diziam as cartas que havia gato!".
Olhei para Simone que se segurou ao meu braço pelo susto da investida.
Eu ainda perguntei à matrona.
— Mas que se passa?
— Que se passa? Seu canalha! Pois não é seu o cabrão daquele gato preto? Não é seu, hem? Tem coragem de dizer que não é seu?
— E depois? Que há? — perguntei tentando a custo manter a calma.
A matrona principiou a chorar.
— Minha pobre gatinha, coitadinha, coitadinha! Com oito anos e virgenzinha, não sabia nada, coitadinha. Ai! a Senhora ao Pé da Cruz me acuda deste demónio. Agora grávida, grávida do preto. Está grávida, seu malandro, percebeu?! Grávida. Ai a minha gatinha, a minha gatinha...
E deu-lhe um tremelique...
lp

Pantufa Negra


Uma tira da autoria de Luís Faustino para ver diariamente no Expresso online, aqui.

terça-feira, 17 de março de 2009

Gato

Que fazes por aqui, ó gato?

Que ambiguidade vens explorar?

Senhor de ti, avanças, cauto,
meio agastado e sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pelo, frio no olhar!

De que obscura força és a morada?

Qual o crime de que foste testemunha?

Que deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?

Gato, cúmplice de um medo
ainda sem palavras, sem enredos,
quem somos nós, teus donos ou teus servos?

Alexandre O'Neill
Com o dinheiro que lhe coube depois do litigioso divórcio resolvido, Simone decidiu-se por comprar um andar num restaurado edifício à Rua do Capelão, no Bairro da Mouraria.
A rua, carregadinha de simbolismo fadista — basta dizer que três passos mais acima viveu Severa — tem um inconveniente; a atracção dum bairro desenfreadamente procurado por turistas que à noite enchem tabernas e bares, e cantam fado encharcados de cerveja.
A minha Calçada dos Mestres é o silêncio na sua máxima perfeição. E, por isso, achamos que o nosso futuro em comum passa por Simone alugar o andar onde vive com o filho e transferir-se para Campolide, com as suas armas e bagagens.
Com este propósito desenhamos vários estudos, configurando as minhas 4 divisões ao gosto requintado da minha futura mulher; e ontem, depois de termos jantado numa tasquinha da Mouraria, resolvemos dar um pulo a minha casa para conferir definitivamente a medida do quarto que se destina ao André.
Entrámos no patamar.
E de repente, como inesperado relâmpago, a matrona sai de casa de D. Leopoldina e, aos gritos histéricos, aponta-me o dedo.
"Lá vem ele, o malandro, o canalha, o sem vergonha…"
lp

segunda-feira, 16 de março de 2009

© Louis Wain - The Violinist
Não foi muito pacífico o divórcio de Simone com o pai de seu filho André; um tal Alvim Oliveira, com uma poderosa carteira de seguros e a responsabilidade de Segundo Vigilante numa Loja Maçónica.
Em causa, segundo a minha querida Simone me foi confidenciando, estavam os bens patrimoniais que ambos possuíam, pois no assento de casamento lia-se "regime de comunhão de bens".
Como bom Maçon, Alvim levava tudo à letra dos rígidos deveres e, se necessário, utilizava régua e esquadro no enquadramento da liberdade, democracia e igualdade.
Um dos problemas mais complicados — depois de resolvido o da partilha do colchão da cama do casal onde, segundo ambos sabiam, tinha acontecido a noite da concepção sem a ajuda de S. Gabriel — foi a divisão da paternidade; André era dos dois e, depois de diversas altercações o Juiz, ironizando, alvitrou pôr em prática a célebre lenda de Salomão…
lp

domingo, 15 de março de 2009

sábado, 14 de março de 2009

Moldávia (2007)

sexta-feira, 13 de março de 2009