sexta-feira, 13 de março de 2009

© Abraham Palatnik - Lucite Cat

quinta-feira, 12 de março de 2009

Dewey no cinema

Dewey, o bestseller de Vicki Myron lançado em Portugal em 2008, vai ter direito a adaptação cinematográfica dentro de dois anos.
Meryl Streep encarnará a bibliotecária do Iowa, que adoptou o famoso gato.

Fiquem a conhecer pormenores desta história que comoveu o mundo, assistindo à reportagem do “Cartaz” da SIC Notícias.



A Girl and Her Cat at the Kotatsu Warmer
© Utagawa Kunimasa (séc. XVIII)

José e Maria


© Blue Lantern Studio
(1890-1920)

quarta-feira, 11 de março de 2009

Mil novecentos e oitenta e quatro

Recolhemos o gato
na madrugada de sábado,
recém-nascido, ainda com os olhos fechados.

Como uma mãe a um filho,
vigiamos-lhe o sono,
compramos um biberão e leite em pó,
uma tetina,
uma manta de reduzidas dimensões,
branca,
com um desenho negro no dorso,
para lhe lembrar a raça.

Não tendo resistido,
morreu serenamente,
num súbito vagido
e o pêlo encharcado,
quem sabe se pelo esforço
da grande travessia.

Por última mortalha,
metemo-lo num sobrescrito,
para continuar a viagem.

Amadeu Baptista
Tive dificuldade em adormecer.
O sonho comanda a vida, diz a canção...
E deixei-me levar pela alegria de me arrumar "definitivamente" na minha vida. Simone era perfeita. Parecia-me perfeita. E, neste conceito de perfeição, não deixei de olhar o Querido Gato que se preparava para se enroscar aos pés da minha cama.
Como pode um gato ter tão grande papel na vida de uma pessoa? Devo-lhe a ele este conhecimento ainda verde, decerto que ainda verde, mas calma lp; Roma e Pavia não se fizerem num dia, mas a caminhada não pode ser longa; deixar amadurecer o fruto da árvore? deixar este relacionamento cair na monotonia? não lp! Olha para ti e avalia os teus predicados, condicionais, imperfeitos, passivos, complementos directos e indirectos, e divide uma oração; Avé Maria… cheia de graça… o senhor…
Acordei com um barulho na escada. Eram uma 10 horas da matina.
A matrona voltava da Judite.
lp
Foto de Mark Rykoff

terça-feira, 10 de março de 2009

Nova Zelândia (1994)

O prédio inteiro, entretanto, tinha acordado.
Um ou outro vizinho abriu a porta para dar fé.
E no rés-do-chão, a simpática D. Leopoldina que de vez em vez olha pelo Querido Gato, esperava a matrona.
— São bolinhos de mel, pode ter fome durante a noite — ouvimos.
— Obrigada minha querida. Logo já cá estou para ver a novela!
Eu e Simone fomos até à janela, e afastámos a cortina. Continuava a cair uma chuvinha, a tal que molha tolos; e os dois polícias abriram uma porta do carro para entrar a matrona, a bagageira onde deixaram caixas, e arrancaram rua abaixo.
— Desculpa, meu amor. Isto não estava no programa… — disse-lhe.
— Vou andando lp. Já é tão tarde!… Vê bem às horas a que vou buscar o miúdo à ama.
— Vai sim! Vai! Tens razão, já é tarde… mas que queres, o tempo voa!
E, já na porta, pedi-lhe mais um beijo. Deu-mo e abraçou-me.
— Diz-me que me amas! — disse-lhe ao ouvido.
— Amanhã! Abre-me a porta. Dorme bem.
Atravessou a rua como pequenina gazela, meteu-se no carro e arrancou.
Voltei-me para o Querido Gato e, com autoridade, avisei-o:
— Temos que conversar. Não voltas a pôr a pata em ramo verde, ouviste bem?
lp

segunda-feira, 9 de março de 2009

Pantufa Negra


Uma tira da autoria de Luís Faustino para ver diariamente no Expresso online, aqui.
Os dois guardas subiram os degraus e bateram a uma das portas.
— Que querem? — ouve-se. Era a voz da matrona.
— D. Leonilde? — perguntou outra voz, ainda mais boçal.
— Que querem? — repetiu a tal.
— Que nos abra a porta. Temos aqui a ordem para a levarmos e revistarmos a casa.
— Outra vez? A estas horas?! Cambada! Já uma pessoa não pode viver com decência — disse ela com voz altercada.
A vidente, a cartomante, a esotérica, a bruxa, tudo quer dizer o mesmo, eu sei... a matrona Leonilde abriu a porta, e a Judite entrou.
— Lá vão as minhas cartinhas, os meus búzios, as pedrinhas da praia que tanto custam a apanhar, a lâmpada encarnada, o mocho embalsamado…
— A senhora também vai, descanse! — disse um.
— Vou, mas volto, essa agora! Já não se pode trabalhar honradamente neste país. Da outra vez também foi assim. Entrei e saí.
— Já tem idade para ter juízo, minha senhora — disse o outro.
— Juízo? Deixem-me rir. Ah! Ah! Basta dizer lá na polícia os nomes de homens e senhoras que me pedem conselhos. Ainda ontem esteve aqui a mãe dum distinto deputado a querer saber do futuro dele…
lp

Os gatos da tinturaria

Os gatos brancos, descoloridos,
passeiam pela tinturaria,
miram policromos vestidos.

Com soberana melancolia,
brota nos seus olhos erguidos
o arco-íris, resumo do dia,

ressuscitando dos seus olvidos,
onde apagado cada um jazia,
abstractos lumes sucumbidos.

No vasto chão da tinturaria,
xadrez sem fim, por onde os ruídos
atropelam a geometria,

os grandes gatos abrem compridos
bocejos, na dispersão vazia
da voz feita para gemidos.

E assim proclamam a monarquia
da renúncia, e, tranquilos vencidos,
dormem seu tempo de agonia.

Olham ainda para os vestidos,
mas baixam a pálpebra fria.

Cecília Meireles

domingo, 8 de março de 2009

© Jim Davis
Mas o Querido Gato não nos deixava. (Vou pensar muito seriamente em alterar o seu nome de registo para outro mais de harmonia com a atitude que assumiu naquele tão lindo serão; "amigo-da-onça").
Simone, entretanto, reparou ser quase meia-noite; dá-me um beijo longo, um beijo de despedida, duma despedida de "até já".
— Vamos pensar nisto, sim? — disse-me — Vamos ser adultos e reflectir sobre os nossos sentimentos. Eu gosto de ti. Pareces um homem sério, meigo e incapaz de me seres infiel — esta última palavra foi dita com um ligeiro sorriso.
De repente aconteceu um reboliço no patamar da entrada; vozes de homens, falando alto, descuidados quanto ao horário tardio.
Sentem-se passos a subir os degraus. O meu gato encrespou o lindo pelo.
A querida Simone, soergueu-se do sofá, compôs a blusa desalinhada e vestiu o casaquinho.
Depois duas valentes pancadas na minha porta.
— Aqui é o 2.º? — perguntou uma voz boçal, de homem.
— Quantos lances de escada subiu o Sr.? — retorqui visivelmente indisposto.
— Não se fala assim com a autoridade, hem?! — e com voz mais alta disse para baixo — Sobe pá! É no andar de cima!
Era a polícia.
lp
Lágrimas soltas correram-lhe pela face. (Que eu sorvi numa ânsia de frescura).
Gianni Schicchi tinha chegado ao fim.
O Querido Gato apareceu — deveria vir dos lavabos — e de novo soltou para as pernas de Simone. Desta vez dei-lhe uma palmada pela inoportuna atitude. O gato miou e afastou-se.
Com a velha vela vermelha de chama já pálida, abraçámo-nos num conforto supremo e ouvimos respirações ofegantes que decerto eram nossas. Depois, num beijo suave e terno, que ambos procurámos na descoberta de sentimentos adormecidos, fugimos para outro espaço celestial, carregadinho de estrelas de brilho diamantino.
Na semi-obscuridade da sala sentimos ambos que vivíamos um momento que perduraria para sempre. As nossas mãos, de gestos lentos e meigos, procuravam-nos numa descoberta de iniciação.
lp

sábado, 7 de março de 2009

Taki

O gato de Raymond Chandler
(foto de 1954)