é tão fácil amar lugares
que não existem
recordar praças .....e pontes .....e travessas
onde nunca morremos por ninguém
quartos na penumbra de estores corridos
sobre a sonolência dos gatos em agosto
onde nunca chegámos atrasados
o tampo de mármore de mesas de café
onde as nossas mãos não se esconderam
por alguém ter entrado antes de nós
é tão fácil lembrar nomes .....e rostos .....e destinos
e colocá-los em nossos ombros .....e festejar com eles
as luminosas horas em que a vida
nos rodeava a cintura como um amante possessivo
e nós repetíamos o nome das cidades
onde nada disso tinha acontecido
é tão fácil assim
dizer adeus
sabendo que deus nem sequer assiste
à despedida
Alice Vieira
(in "Dois Corpos Tombando na Água")
sexta-feira, 19 de março de 2010
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