quarta-feira, 11 de março de 2009

Mil novecentos e oitenta e quatro

Recolhemos o gato
na madrugada de sábado,
recém-nascido, ainda com os olhos fechados.

Como uma mãe a um filho,
vigiamos-lhe o sono,
compramos um biberão e leite em pó,
uma tetina,
uma manta de reduzidas dimensões,
branca,
com um desenho negro no dorso,
para lhe lembrar a raça.

Não tendo resistido,
morreu serenamente,
num súbito vagido
e o pêlo encharcado,
quem sabe se pelo esforço
da grande travessia.

Por última mortalha,
metemo-lo num sobrescrito,
para continuar a viagem.

Amadeu Baptista