segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O Segundo Gato

Em cada gato há outro gato
um pouco menos exacto
e um pouco menos opaco.

Um gato incoincidente
com o gato, iridiscente,
caminhando à sua frente

ou a seu lado
espírito alado
do que é terrestre no gato.

É o segundo gato
que permanece acordado
com o gato afundado

em sono abstracto,
aos seus pés enrolado,
espécie de gato do gato

Ou que, mais tardo,
deambula pela sala
enquanto o gato se lava,

às vezes assomando
nos olhos do gato
como um passado imóvel e

enclausurado.
O próprio gato
não sabe

que anda por ali
algo que não cabe
dentro nem fora de si.

Manuel António Pina

3 comentários:

Anónimo disse...

perfeito!

Paulo Cunha Porto disse...

Queridas Amigas,
inaugurei nova página pessoal em:
http://muitacautela.blogspot.com/

e logo com uma primeira imagem que, creio, Vos dirá muito.
Beijinhos

Anónimo disse...

O Manuel António Pina tem sete gatos.

Que respiram o ambiente literário e calmo do poeta.

São seres passeantes e meditativos.