sexta-feira, 28 de março de 2008

O Senhor K. e os Gatos

O Senhor K. não gostava de gatos. Não lhe parecia que fossem amigos do homem, e portanto não era amigo deles. «Se tivéssemos os mesmos interesses», dizia, «a sua atitude hostil ser-me-ia indiferente.» No entanto, o Senhor K. ficava contrariado se tivesse de fazer os gatos saltarem da sua cadeira. «Deitarmo-nos a descansar é um trabalho», dizia, «e deve por isso ter êxito.» Por outro lado, quando os gatos se punham a miar atrás da porta levantava-se da cama, mesmo que fizesse frio, e deixava-os entrar para o quente. «O cálculo que eles fazem é muito simples», dizia. «Quando chamam, alguém vai abrir-lhes a porta. Quando deixamos de ir abrir-lhes a porta, deixam de chamar. Logo, chamar é um progresso.»

Bertold Brecht

1 comentário:

Anónimo disse...

O senhor K. é um bocado marado. E nem é primo do senhor Henry ou do senhor Valéry. De Brecht a Gonçalo M. Tavares vai uma diferença.

Eu gosto de gatos, mas sei que são moralmente inferiores aos cães.
Falta-lhes a propensão para viver desinteressadamente em sociedade.
E o fair-play de avisar que vão atacar.Genericamente falando. Cada gato é um gato. É o que vale.


Se o ser humano é desprezível, que nos ignorem. A partir do monento em que lambem os bigodes com Whiskas e patés especiais, têm a obrigação moral de revelar um pouco de espírito cívico.