sábado, 26 de janeiro de 2008

um gato de lisboa

gato manso das velhotas
de alfama e da madragoa
dormitas sem cambalhotas
e nunca leste o pessoa.

quando ronronas não notas
tanto espreitar da patroa
nem quer’s saber das gaivotas
voando no céu à toa.

dos peixes só vês as rotas
pela espinha ou quando ecoa
o pregão com cheiro às lotas
onde os despeja a canoa.

és livre e nisso te esgotas
sem remorso que te doa,
e ao peitoril não desbotas
e esta luz não te magoa,

nem vês corvos nem gaivotas
empoleirados na proa,
mas de corvos e gaivotas
faz-se o brasão de lisboa.

Vasco Graça-Moura

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