domingo, 4 de novembro de 2007

Num vento de pressas

Havia um gato durável, sem intermitência
nem mudança, no ápice dos muros,
no vagar morno das soleiras,
à janela das tílias que davam para o mar.
Gato hipnótico, coruscante, indecifrável,
num olho entremostrando um torvelinho de pássaros,
no outro, a comissura onde acasala a noite.
Chega-me, ao consolo, esse gato
envencilhado num vento de pressas
e outras minuciosas subtilezas,
vento que tira o tempo das gavetas,
vento de remidas cumplicidades.
Chega-me esse gato torna-viagem
e com ele o entardecer mercurial,
as mãos ágeis que trepavam os ossos das figueiras,
o corpo a subir cada vez mais alto
na arquitectura das águas vertiginosas.

Paulo Ferreira Borges

4 comentários:

Chat Gris disse...

:)

tino cassi disse...

el gato
atravesando la lluvia
desde el maullido

ecos de su ausencia
vienen bajando...

Orchidea disse...

Per chi come me ama i gatti questo blog è magnifico. Lo metto tra i miei siti preferiti.

Orchidea

Anónimo disse...

¿Para cuando una fotografía de Doña Inés Ramos junto con un gato o gata?